sexta-feira, 22 de maio de 2009

PARA REFLETIR

A sala de informática é um espaço de múltiplos fazeres pedagógicos, também chamados de movimentos ou acontecimentos, os quais mostram inúmeras situações que deparam professores e alunos durante o processo de ensinar e de aprender com o uso das tecnologias, ditas computacionais. Essas situações, à medida que nos apropriamos de tecnologias no ensino, desencadeiam ações (quando da prática docente) e percepções (quando do que aprende o aluno) num movimento muito complexo de associação, socialização, mobilização e articulação entre o que se quer aprender e o meio disponível para essa aprendizagem.

Consequentemente, essas ações e percepções decorrentes do fazer pedagógico no laboratório de informática, nos permitem pressupor algumas considerações que julgo necessárias para o fechamento desta oficina.

A primeira trata da importância do professor encarar a incursão tecnológica como um encontro dos possíveis na escola, de modo ela passe enxergar seus espaços de educação também como espaços de comunicação estabelecidos nesse contexto. A meu ver, a instituição escolar não enfrenta a tecnologia e nem mesmo tenta combatê-la. O que existe e persiste é um resistir necessário, de uma ação educativa que discute e questiona a incorporação tecnológica para um fazer educativo consistente e consciente em prol do educar mediado pelo contexto tecnológico.
A segunda considera necessário o “domínio” do uso da tecnologia. Não basta saber operá-la (desmistificá-la), é imprescindível saber potencializá-la no ensino (consubstanciá-la para o exercício intelectual do sujeito). Para isso, além de dominar o instrumento tecnológico-educativo, necessita o professor, junto com o aluno, sentir-se seguro quanto ao uso consciente dos aparatos tecnológicos, ou seja, estar aberto a superar a negativa do não querer (em que o professor resiste quanto a aprender uma tecnologia que ele enxerga complexa), do não saber (em que o professor não “domina” a ferramenta que utiliza e tem dificuldade de acompanhar a velocidade do tempo com que aprende o aluno) e do não poder (em que o professor não tem o tempo necessário para desmistificar com propriedade a utilização dos aparatos tecnológicos como meio para o ensinar e o aprender), postulando-se com isso, na condição de agente mediador do aprender a aprender.
E finalmente a terceira, que mostra que a prática docente quando mediada pelas tecnologias, não exime o professor de sua familiarização com esse contexto, assim como não o exime do suposto medo e insegurança ao usá-las no ensino, bem como de uma suposta fragilização da sua ação pedagógica. No entanto, esses pressupostos estão associados à percepção que este tem, a partir do processo da incorporação do computador no fazer pedagógico, de que existe um paradoxo que o docente precisa encarar, ou seja, o paradoxo ensinante/aprendente. Esse paradoxo, que coloca o professor na condição de aprendiz da tecnologia que utiliza para ensinar, nos permite refletir sobre o processo do ensino sob outra perspectiva. Estamos habituados a perceber na sala de aula um fazer docente sugerido pelo professor, ou seja, partindo dele o convite para o aprender na escola, como se fizesse e (re)fizesse a pergunta: Vem aprender comigo? Entretanto, com a incorporação do Computador e logo mais a Internet/Ciberespaço no espaço escolar, o convite para o aprender, agora também na sala de informática, não parte apenas do professor, e sim do coletivo dos alunos, de modo que não se sabe ao certo quem faz a pergunta: Vamos aprender juntos? Pois professor e aluno estão em processo de aprendizagem, é um perguntar coletivo.
Em razão disso, a relação pedagógica e nela a prática docente mediada pelas tecnologias, é um agenciador de um outro movimento de aprender na Escola (o aprender coletivo). As mensagens postas pelo movimento tecnológico se transformam em saberes importantes para a educação e para a vida dos sujeitos, à medida que são transformadas por eles (professores e alunos) em saberes significativos para seu mundo cotidiano, suas realidades de vida. Ora, os desafios para transformá-las em significações comuns diante do contexto das tecnologias é um ponto de superação para professores, alunos e a própria escola.
Portanto, especialmente a esta última está atribuída uma função de tomar o meio tecnológico como um meio em que se possa ensinar e aprender de modo significativo, e para isso, é imprescindível percebermos que não existe forma, nem fórmula imposta à escola para o educar no movimento e no pensamento tecnológico. Existe, sim, um movimento intenso e complexo, e um fazer educativo (que deve partir de cada escola) que permite a ela perceber que suas linguagens de ensino se transformam (se fazem mutantes) com a incorporação das tecnologias.
Se, por um lado, a incursão tecnológica (que faz a escola engolir o computador e necessitar sua digestão) é força assimétrica de fora para dentro no espaço escolar, por outro, a qualidade e a autenticidade da significação e da contextualização, ou da alimentação/produção das informações mediatizadas neste contexto é responsabilidade da escola. Isso porque, essa significação/contextualização é produzida nos seus espaços pedagógicos e projetada para fora deles, como conhecimentos produzidos e utilizáveis no cotidiano do sujeito que o produziu (ou no cotidiano do aluno que aprendeu).
Portanto, é da qualidade do que se produz, elabora, (re)elabora, discute, aprende e ensina na escola imbuída no movimento tecnológico que estão implicados os desafios para esta última, educar no contexto do paradigma tecnológico e, porque não dizer, educar no contexto ora, da Internet/Ciberespaço.
Frente a isso, de forma alguma se apresenta uma “cartilha” à instituição de ensino, ou ao professor quanto ao fazer pedagógico com a informatização dos espaços escolares. Não apostamos em uma metodologia magna que conduza a escola a educar pelo meio tecnológico sem a superação do medo, sem a fragilização da ação pedagógica e/ou sem um estranhamento, e que com isso garanta resultados. Apostamos, sim, na capacidade da instituição escolar em articular uma inteligência coletiva, que se socialize, se fortaleça e se crie através das tecnologias, especialmente da rede, como um pensar coletivo que as toma como meio, porque enxerga nelas uma imagem de si mesmo.
Pense nisso!!! - Prof. Márcia Fink

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O Instituto Fagundes Varela...

Ocupando uma área de aproximadamente 4.400 m2, distribuídos em 45 dependências, entre salas de aula e espaços didático-pedagógicos, o Instituto Fagundes Varela, que consideramos como um lugar especial destinado às aprendizagens dos sujeitos, toma a educação como forma de construção humana, através de processos dialógicos, solidários e coletivos, constituídos como bases do desenvolvimento social e entendidos como socialmente justos, economicamente viáveis, ambientalmente sustentáveis, solidários e igualitários, considerando o homem e a mulher em sua relação com o meio e com os demais.

Entende-se ainda que a construção social do conhecimento e dos sujeitos se dá a partir dos saberes populares, articulados rigorosamente aos saberes científicos, éticos e políticos necessários à emancipação/libertação do sujeito.